Câncer em pacientes transplantados renais: evolução clínica e sobrevida do enxerto e do receptor

Imagem de Miniatura

Data

2020-10-19

Título da Revista

ISSN da Revista

Título de Volume

Editor

Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais

Resumo

Introdução. A doença renal crônica terminal (DRCT) constitui-se em um importante problema de saúde pública mundial sendo o transplante renal considerado o melhor tratamento para a DRCT em relação à diálise. Para evitar a rejeição do enxerto, o paciente transplantado submete se ao tratamento contínuo com drogas imunossupressoras, cujos efeitos colaterais associam-se ao desenvolvimento de diferentes tipos de câncer (CA) com consequente aumento da mortalidade. O risco para doenças malignas pode aumentar de duas a 20 vezes nos pacientes transplantados. Apesar disso, o rastreamento para o câncer na população de transplantados é inadequado e sem protocolo clínico padronizado. Objetivos. O objetivo deste estudo foi analisar a ocorrência de câncer em pacientes transplantados renais, os fatores de risco, a evolução clínica e a sobrevida do enxerto e do paciente. Material e métodos. Este estudo caso controle incluiu 100 pacientes que receberam transplante renal entre 2008 e 2018 na Unidade de Transplante do Hospital Universitário Ciências Médicas. Destes, 25 pacientes que desenvolveram CA foram designados para o grupo de caso e 75 pacientes sem CA compuseram o grupo de controle. Todos os pacientes foram entrevistados para levantamento dos fatores de risco, tais como hábito tabagista, histórico familiar dentre outros antes do transplante e também submetidos ao rastreio para malignidades por exames laboratoriais e de imagem. A terapia imunossupressora foi realizada com imunoterapia de indução em pacientes sensibilizados, terapia imunossupressora tripla de manutenção com inibidor de calcineurina, metilprednisolona e micofenolato de sódio. Após o transplante, a suspeita clínica associada à história positiva de neoplasias motivou a triagem inicial para CA. Com diagnóstico confirmado de CA, o paciente foi submetido aos tratamentos específicos para a doença. Modelos de regressão logística para obtenção dos valores de odds ratios e o método de Kaplan-Meier para curvas de sobrevida foram utilizados nas análises. Resultados. Fatores de riscos como causas de DRCT, tempo em diálise, tabagismo, história familiar de câncer, episódios de rejeição, imunoterapia de indução e imunossupressão tripla de manutenção não foram associado ao desenvolvimento de CA. O CA de pele não-melanoma foi o mais comum, respondendo por 60% dos casos, seguido pelo CA de estômago, próstata e doenças linfoproliferativas (4% cada). A faixa etária mais frequente no diagnóstico de CA foi de 50 a 59 anos e o maior número de diagnósticos foi observado do quinto ao sétimo ano após o transplante (43,83%). A sobrevida do enxerto e do paciente foi similar entre os grupos. Cinquenta por cento dos pacientes que evoluíram para óbito no grupo caso tiveram o câncer como causa de morte. Conclusão. Associação entre o desenvolvimento de CA e os fatores de risco como história familiar e tabagismo não foi observada. As curvas de sobrevida do enxerto e do paciente entre os dois grupos foi similar. Entretanto, o CA pode ocorrer precocemente após o transplante, afetando significativamente a qualidade de vida do paciente. Devido ao uso contínuo de imunossupressão em pacientes transplantados e o alto risco de CA, sugerimos o rastreamento para doenças oncológicas.

Abstract

Introduction. The end-stage renal disease (ESRD) has become an important public health problem in the world and kidney transplantation is considered the best treatment for ESRD in comparison with dialysis. In order to avoid graft rejection, the transplanted patient underwent continuous treatment with immunosuppressive drugs, whose side effects are associated with the development of different types of cancer (CA) with an important risk factor for mortality. The risk for malignant diseases can increase by two to 20 times in transplant patients. Despite this, cancer screening in the transplant population is inadequate and lacks specific guidelines. Objective. The aim of this study was to analyze the occurrence of cancer in kidney transplant patients, risk factors, clinical evolution and graft and patient survival. Material and methods. This case-control study included 100 patients who received a kidney transplant in the period of 2008 to 2018 at the Transplant Unit of the University Hospital Medical Sciences. Of these, 25 patients who developed CA were assigned to the case group and 75 patients without CA after transplantation were assigned to the control group. All patients were interviewed to survey risk factors such as smoking habit, family history among others before transplant and also screened for malignancies by laboratory and imaging exams. The immunosuppressive therapy was performed with induction immunotherapy in sensitized patients; maintenance triple immunosuppressive therapy using calcineurin inhibitor, methylprednisolone, and sodium mycophenolate. After transplantation, clinical suspicion associated with a positive history of malignancies motivated the initial screening for CA. If CA diagnosis was confirmed, the patient was underwent appropriate treatment. The logistic regression models to obtain the odds ratios and Kaplan-Meier method for survival curves were used in the analyzes. Results. An association of the risk factors as causes of ESRD, time in dialysis, smoking habit, family history of CA, rejection episodes, induction immunotherapy, and maintenance triple immunosuppression with CA development was not observed. Non-melanoma skin cancer was the most common, accounting for 60% of the cases, which was followed by stomach and prostate CA and lymphoproliferative diseases (4% each). The most frequent age range with CA diagnosis was 50–59 years and the highest number of diagnoses was noted from the fifth to seventh year after transplant (43.83%). Graft and patient survival was similar between the groups. Fifty per cent of the patients that died in the case group was due to CA. Conclusion. Association between CA development and the risk factors family history and smoking habit was not observed, and no differences in allograft and patient survival were found between the groups. However, CA can occur early after transplantation, significantly affecting the patient's quality of life. Due to the continuous use of immunosuppression in transplant patients and the high risk of CA, we suggest screening for oncological diseases.

Descrição

Palavras-chave

Doenças oncológicas, Imunossupressão, Mortalidade, Sobrevida do enxerto e do paciente, Transplante renal; Kidney transplantation, Immunosuppression, Oncological diseases, Graft and patient survival, Mortality.

Citação

Avaliação

Revisão

Suplementado Por

Referenciado Por