Impacto das transfusões sanguíneas precoces após o transplante renal na ocorrência de rejeições, função e sobrevida do enxerto

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Data

2022-10-26

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Editor

Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais

Linha de pesquisa

Pós-Graduação em Ciências da Saúde - Linha de Pesquisa: Ciências aplicadas às Nefropatias - Transplante renal

Resumo

Introdução: O transplante renal é considerado o padrão-ouro do tratamento da doença renal crônica terminal. No entanto, a despeito dos avanços nesta área, as rejeições ainda são as principais causas de perda do enxerto no primeiro ano pós-transplante. As transfusões de hemoderivados no pós-operatório do procedimento do transplante podem induzir a formação de anticorpos, responsáveis pelos episódios de rejeição humoral (ABMR, antibody-mediated rejection), sendo necessária uma melhor compreensão destes eventos e se há relação com uma pior sobrevida do enxerto. Objetivos: Analisar a relação entre hemotransfusões no primeiro mês pós-transplante e a ocorrência de rejeições bem como o impacto na função renal, sobrevida global e do enxerto em um ano. Material e métodos: Estudo de corte retrospectivo, realizado com 445 pacientes que foram submetidos a transplantes renais com doadores vivos ou falecidos no Hospital Universitário Ciências Médicas entre 2008 e 2018. Os participantesforam divididos entre os que receberam transfusão no primeiro mês pós-transplante (BTG, blood transfusion group) e os que não receberam hemotransfusões no mesmo período (NBTG, non blood transfusion group). Os participantes tiveram um follow-up de um ano para avaliar a ocorrência de rejeições, função e sobrevida do enxerto. Resultados: Estratificando os 445 pacientes, o grupo BTG foi composto por 125 e o NBTG por 320 pacientes. Em relação aos desfechos principais, pacientes BTG tiveram maior ocorrência de ABMR no primeiro ano (13,60%) em comparação aos NBTG (4,38%) (p<0,001). Pacientes transfundidos desenvolveram anticorpos específicos contra o doador (DSA, donor specific antibodies) de novo em maior proporção do que os não transfundidos (p<0,001) no primeiro ano pós-transplante. Pacientes transfundidos mantiveram níveis de creatinina mais elevados no primeiro e terceiro mês pós-transplante (p=0,012 e 0,038, respectivamente). A taxa de sobrevida do enxerto foi pior, com mais perdas no primeiro ano (11,2%) no grupo BTG do que no grupo NBTG (2,5%) (p<0,001). Os fatores de risco para a formação de DSA de novo em um ano após o transplante foram o número de incompatibilidades de HLA (OR 1,95, p=0,031), não receber imunoterapia de indução antes do transplante (OR 1,81, p=0,043) e ter recebido transfusão sanguínea no primeiro mês após o transplante (OR 1,53, p=0,039). A mortalidade foi maior no grupo BTG (7,20%) do que no NBTG (2,81%) (p=0,035). Conclusão: As hemotransfusões no primeiro mês após o transplante estão relacionadas com uma maior ocorrência de ABMR, bem como uma piora da função renal, redução da taxa de sobrevida do enxerto e maior mortalidade no primeiro ano após o transplante

Abstract

Introduction: Kidney transplant is considered the gold standard treatment for end stage kidney disease. However, despite the advances in this area, rejections are still the main causes of graft loss in the first year post-transplant. Blood transfusions in the postoperative period of a kidney transplant may induce antibody formation, responsible for the antibody-mediated rejection (ABMR) episodes, thus a better understanding of these events and whether there is a relationship with poorer graft survival is needed. Objectives: To analyze the relationship between blood transfusions in the first month post-transplantation and the occurrence of rejections as well as the impact on kidney function, global and graft survival in one year. Material and methods: A retrospective cohort study conducted with 445 patients who underwent living and deceased kidney transplants at University Hospital of the Faculty of Medical Sciences between 2008 and 2018. The participants were divided between those who received transfusion in the first month post-transplant (BTG) and those who did not receive hemotransfusions in the same period (NBTG). They had a one-year follow-up to assess the occurrence of rejections, function and graft survival. Results: Stratifying the 445 patients, the BTG group was composed of 125 and the NBTG of 320 patients. Regarding the main outcomes, BTG patients had a higher occurrence of ABMR in the first year (13.60%) compared to NBTG (4.38%) (p<0.001). Transfused patients developed de novo donor specific antibodies (DSA) in a higher proportion than non-transfused patients (p<0.001) in the first year post-transplantation. Transfused patients maintained higher creatinine levels in the first and third post-transplant month (p=0.012 and 0.038, respectively). The graft survival rate was worse, with more first year failures (11.2%) in the BTG group than in the NBTG group (2.5%) (p<0.001). The predictive risk factors for de novo DSA formation at one year after transplantation were the number of HLA mismatches (OR 1.95, p=0.031), not receive induction immunotherapy before KT (OR 1.81, p=0.043) and having received blood transfusion after KT (OR 1.53, p=0.039). Mortality was higher in the BTG group (7.20%) than in the NBTG group (2.81%) (p=0.035). Conclusion: Blood transfusions in the first month after transplantation are related to a higher occurrence of ABMR, as well as a worsening of renal function, reduced graft survival rate and higher mortality in the first year after transplantation.

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Palavras-chave

Doença renal crônica, Transplante renal, Rejeição de enxerto, Anemia, Transfusão sanguínea; Chronic kidney disease, Kidney transplant, Allograft rejection, Anemia, Blood transfusion.

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